Indígenas Yawanawá captam US$ 3 milhões com NFTs que mesclam pinturas tradicionais com dados meteorológicos em tempo real da Amazônia
Arte digital é uma das maiores operações envolvendo NFTs que se tem notícia neste ano
A comunidade indígena Yawanawá, que fica no oeste do Acre, já conseguiu levantar pelo menos US$ 3 milhões com a venda de arte digital expressa por meio de tokens não fungíveis (NFTs) exibidos no clube Annabel's em Londres. É uma das maiores operações envolvendo NFTs que se tem notícia neste ano.
Chamada "Ventos da Amazônia", a exposição foi feita em parceria com o artista brasileiro de novas mídias Refik Anadol e ficará em exibição até 25 de setembro no clube londrino. A apresentação coincide com a campanha anual "Annabel’s for the Amazon", que apoia projetos de reflorestamento da The Caring Family Foundation (TCFF), que atua em parceria com a ONG SOS Amazônia, na floresta brasileira.
Os Yawanawá pretendem arrecadar dinheiro com os NFTs para viabilizar iniciativas de longo prazo para proteger suas terras e o patrimônio cultural da comunidade, que se estende também nas regiões amazônicas da Bolívia e do Peru.
A obra de arte reproduz dados meteorológicos em tempo real da comunidade Yawanawá de Aldeia Sagrada (AC). Em um jogo de formas e cores tradicionais, a série se propõe a ser uma representação viva e em constante evolução da identidade Yawanawá no território amazônico.
"É o projeto mais significativo e com propósito do ano", disse o artista Refik Anadol.
A série consiste em três peças de "esculturas de dado", cada uma com duração de oito minutos. A peça é acompanhada por uma coleção de 1.000 pinturas de artistas da comunidade expressa em NFTs. Os dados meteorológicos, que determinam o movimento da arte digital, incluem elementos como velocidade do vento, rajadas, direção e temperaturas locais.
A obra foi lançada como parte da coleção Genesis do recém-criado registro "Yawanawá & Refik Anadol", cunhada usando um contrato inteligente programado para destacar a colaboração da comunidade indígena e seu entorno, fornecendo dados transparentes sobre a distribuição dos lucros com as vendas de NFT. O dinheiro arrecado está sendo transferido para a comunidade Yawanawá por meio da tecnologia blockchain.
Os NFTs em exposição em Londres fazem parte da coleção particular de Richard e Patricia Caring, fundadores da TCFF. A curadoria da exposição é da Impact One, organizadora "Possible Futures", programa que explora formas de colaboração junto a comunidades indígenas.
Entre os trabalhos desenvolvidos pela TCFF no Acre, estão a capacitação de mulheres para geração de renda para a comunidade indígena a partir do incentivo a cadeias de suprimentos com produtos locais, plantio de árvores e outras iniciativas de preservação ambiental.
A fundação já plantou com sucesso 1,75 milhão de árvores e mudas e está caminhando para atingir 2 milhões de unidades até março de 2024. Esse compromisso coloca a TCFF como o principal doador do Reino Unido para o reflorestamento no Brasil.
"A vida e o espírito que os Yawanawá mostram e inspiram tão claramente, mantendo a Amazônia o mais natural possível, é uma coisa linda de se ver", disse o fundador da TCFF, Richard Caring.
Por Toni Sciarretta